Branco levou o
índio para o vício e a malandragem
Editoria
UH-Amazônia
A integração
do jovem índio aos costumes do homem branco, leva-o a assimilar a bebida
alcoólica que o torna ébrio e vagabundo. A integração da jovem índia ao seio da
sociedade branca, leva-a a assimilar a prostituição que a torna rejeitada por
ambos os lados. Isso tudo é uma aculturação genocida. A sociedade silvícola tem
sido vítima de extermínio violento devido a insipiência do cidadão da cidade
para com a população tribal. Por ser em número maior, o "caraíba"
acha por bem não integrar-se à assimilação e aculturação dos indígenas. Antes,
porém, tal como Senhor, resolve impor à
chicotadas, usos e costumes sociais e religiosos estranhos à vida dos índios.
Um verdadeiro
genocídio é o resultado. Nos nossos dias, final de século, início do segundo
milênio um povo inocente, em vez de ser jogado aos leões no interior das
arenas, é despejado nas periferias das grandes cidades. Nas suas mãos colocam
as garrafas de cachaça e os obrigam a trabalhar como escravos em troca de uma
moeda sem valor.
A integração
forçada do índio tem causado muitas perdas e lutas armadas, tanto no campo,
como nas cidades. Por outro lado a ganância pela posse de terras férteis e
ricas em mineração, tem contribuído para o ressentimento do índio contra nossa
civilização e a repugnância do povo brasileiro, que não entende tanta maldade.
Sobrevivência
curta
"Muito se
fez pelo índio, de dois milhões na época do "descobrimento", os
reduzimos a 100 mil, e de primeiro e único ocupante de todo o território
brasileiro, o espoliamos até não ter mais onde se assentar. Seus últimos pedaços
esparcos de terra vem sendo disputado, por muitos e escusas maneiras, pelo
"progresso" branco.
Oficialmente o governo brasileiro nega a
política de extinção. E pode apontar documentos escritos que defendem e
protegem o índio. No entanto antropólogos, missionários e os próprios índios
estão vendo - com os olhos que não conseguem mais se espantar - que o índio brasileiro vive nesses anos o momento crítico: ou morte de
qualquer maneira". Revista Vozes, Nº 3, 1976, Ano 70
Rondon, ao
fundar em 1910 o Serviço de Proteção aos índios (SPI), formulou os princípios
doutrinários da política indigenista brasileira, que procura assegurar ao
índio, o direito de viver segundo suas tradições; garantir ao mesmo a posse
coletiva de suas terras tribais; defender a família indígena, proibindo o seu
desmembramento, mesmo sob o pretexto de educação e catequese das crianças.
A intenção,
entretanto, era transformar o índio em lavradores objetivando sua integração.
Desejavam desenvolver a capacidade do silvícola através do trabalho. Acontece
que o "modo vivendi" da sociedade indígena, sua harmonia com a
natureza, interpretação de sobrevivência alimentar não o possibilita, ter a
noção de trabalho semelhante a do homem "civilizado". Desta forma,
erroneamente e porque não dizer maldosamente, atribuiram ao índio o defeito da
improdutividade e o consideram ilegítimo ao trabalho de subsistência.
Mais tarde,
pode-se notar que o organismo oficial pretendera, ao longo de diversas gestões,
custear a política indigenista através do produto do trabalho indígena. Essa
mentalidade protecionista desenvolveu-se durante a década de 1960.
Em seguida,
uma nova mentalidade tomou conta das cabeças pensantes da época. A ideologia
desenvolvimentista. Neste momento quando dava-se o grito de "Pra Frente
Brasil" o índio era um obstáculo ao desenvolvimento nacional.
O milagre
brasileiro
Nesta época o governo de Garrastazum Médice fazia vista
grossa para matança de jovens estudantes e políticos nas masmorras e quartéis.
O Brasil iniciava a década de 70 com o tricampeonato mundial de futebol
enquanto o "Milagre Brasileiro" iniciava processo de cavação do
buraco econômico em que a nação se encontra hoje. O entreguismo e o despotismo provocaram uma invasão
indiscriminada de empresas estrangeiras nas plagas brasileiras. Em pouco tempo,
a Amazônia Legal e Setentrional foi tomada de assalto. A fauna e a flora foram estupradas. As madeiras cortadas
proporcionando o espetáculo da queda das árvores para o ego ganancioso. O solo
foi queimado e o ecossistema vilipendiado.
Nos dias
atuais presenciamos os rios e baías estragados por detritos das fábricas e
esgotos urbanos. Os crocodilos em extinção,
piranhas proliferando nos rios. Os componentes químicos dos garimpos
contaminam as águas. Os garimpeiros matam os índios.
A terra invadida...
Em 1992 o
professor Darcy Ribeiro disse: "O importante é estancar a mortandade,
combatendo as suas causas, o destino final do índio, sua incorporação ou
equistamento, será o desfecho de um processo no qual podemos influir muito
pouco".
Mai adiante, o antropólogo e hoje senador da república,
completa:
"A lição
que e ele encerra é a de que o trabalho com grupos indígenas já envolvidos e
brutalizados pelo contato e ação devastadora do homem branco, a antropologia
acadêmica perde muito de seu sentido. Isto porque o antropólogo não pode deixar
de encarar um problema que lhe é posto em quase todas as conversas e ações do
índio o destino daquela população. Nesta circunstância, os problemas acadêmicos
se diluem, pois já não se trata de cuidar uma forma de organização social ou um
tempo de troca matrimonial, mas de procurar soluções para o problema de seres
humanos que estão testemunhando o desaparecimento de sua sociedade. E para este
tipo de questão, a antropologia não tem resposta."
Última
Hora - Ano 1 - Porto Velho, quinta-feira, 11-07-91 - Nº 1; Última Hora - 1 -
Rondônia, segunda-feira - 15-07-91. Última Hora, Ano 1 - Rio Branco, sexta-feira,
12/07/91 - Nº 42, sob o título "Índio brasileiro é vítima da
integração".
O índio Não é
Criança Para ser tutelado desta forma
Editoria
UH – Amazônia
E lamentável a
decisão arbitrária do presidente da Fundação Nacional do Índio - Funai, Sidney
Possuelo, em expulsar os missionários norte-americanos e canadenses em atuação
nas áreas indígenas do país. A acusação é de os missionários terem omitidos
propositalmente dezenas de mortes entre os grupos de índios em Cummapanema, a
Oeste do Pará. A decisão animalesca de Possuello tem base num
"relatório" enviado a Brasília pelo antropólogo Dominique Gallois, da
Universidade de São Paulo.
Podemos
entender, como brasileiros, que após 20 anos de autoritarismo, a nação inicia
ainda uma fase de transição política/econômico, social e psicológica. Uma parte
do povo nos dias atuais está tão deslumbrado com essa transição, que chega ao
ponto de ser até transcendental seu comportamento moral. O exibicionismo e a
corrupção um dia encrespado no seio obscuro do poder estão sendo descoberto aos
poucos.
Por causa
dessa transição podemos compreender a falta de habilidade de certos homens
dentro do novo regime. É o caso do atual presidente da Funai, Sydney Possuello.
Com uma decisão unilateral resolve expulsar os missionários americanos e
canadenses porque soube de um relatório acusador de um suposto antropólogo.
Recentemente o
ministro da Justiça, Jarbas Passarinho, oriundo das terras acreanas, de
formação nas plagas paraenses, portanto um amazônida de berço, ao se referir às
provocações de grupos em Brasília
durante a descida da rampa com o presidente Collor, disse: "O governo não
vai morder a isca da provocação."
O próprio
ministro não mordeu a isca da provocação mas engoliu um alimento mais indigesto
que foi aceitar acusações tais como deste relatório contra os missionários
estrangeiros. Dizemos isto porque antes da expulsão dos missionários o ministro
Passarinho havia se pronunciado contra a presença dos cristãos nas regiões
indígenas da Amazônia. Indireta ou diretamente o presidente da Funai foi
incentivado pelo ministro a executar a sentença.
Este artigo
tem por objetivo chamar a atenção do ministro da Justiça para que peça uma CPI
sobre estes assuntos. Não acreditamos que os missionários americanos e
canadenses tenham realizado o ato de que são acusados. Precisamos escutar os
missionários da região. Precisamos ouvir os líderes evangélicos responsáveis
pelo trabalho na selva. Vamos chamar os pastores batistas, metodistas e
presbiterianos, etc., que são responsáveis pelo trabalho de evangelização dos
índios. Vamos clarear esta questão.
Agora uma
pergunta: - Quem é Sidney Possuello? O que está por trás desta decisão. Qual
autoridade governamental tem o supremo direito de decidir sobre o destino do
índio se a ambição do próprio governante tem transformado o silvícula num
traste.? E para finalizar, somos da opinião de que branco não tem condições
alguma de presidir a Funai.
Queremos uma
resposta adequada do governo federal.
Última Hora/Acre - Ano 1 - Rio Branco, Sexta-feira, 19.07.91 -
nº4
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