sexta-feira, 7 de junho de 2013

A TUTELA DO ÍNDIO E O DOMÍNIO


            Branco levou o índio para o vício e a malandragem

                                               Editoria UH-Amazônia

 

            A integração do jovem índio aos costumes do homem branco, leva-o a assimilar a bebida alcoólica que o torna ébrio e vagabundo. A integração da jovem índia ao seio da sociedade branca, leva-a a assimilar a prostituição que a torna rejeitada por ambos os lados. Isso tudo é uma aculturação genocida. A sociedade silvícola tem sido vítima de extermínio violento devido a insipiência do cidadão da cidade para com a população tribal. Por ser em número maior, o "caraíba" acha por bem não integrar-se à assimilação e aculturação dos indígenas. Antes, porém,  tal como Senhor, resolve impor à chicotadas, usos e costumes sociais e religiosos estranhos à vida dos índios.

            Um verdadeiro genocídio é o resultado. Nos nossos dias, final de século, início do segundo milênio um povo inocente, em vez de ser jogado aos leões no interior das arenas, é despejado nas periferias das grandes cidades. Nas suas mãos colocam as garrafas de cachaça e os obrigam a trabalhar como escravos em troca de uma moeda sem valor.

            A integração forçada do índio tem causado muitas perdas e lutas armadas, tanto no campo, como nas cidades. Por outro lado a ganância pela posse de terras férteis e ricas em mineração, tem contribuído para o ressentimento do índio contra nossa civilização e a repugnância do povo brasileiro, que não entende tanta maldade.

 

            Sobrevivência curta

            "Muito se fez pelo índio, de dois milhões na época do "descobrimento", os reduzimos a 100 mil, e de primeiro e único ocupante de todo o território brasileiro, o espoliamos até não ter mais onde se assentar. Seus últimos pedaços esparcos de terra vem sendo disputado, por muitos e escusas maneiras, pelo "progresso" branco.

             Oficialmente o governo brasileiro nega a política de extinção. E pode apontar documentos escritos que defendem e protegem o índio. No entanto antropólogos, missionários e os próprios índios estão vendo - com os olhos que não conseguem mais se espantar -  que o índio brasileiro vive  nesses anos o momento crítico: ou morte de qualquer maneira". Revista Vozes, Nº 3, 1976, Ano 70

            Rondon, ao fundar em 1910 o Serviço de Proteção aos índios (SPI), formulou os princípios doutrinários da política indigenista brasileira, que procura assegurar ao índio, o direito de viver segundo suas tradições; garantir ao mesmo a posse coletiva de suas terras tribais; defender a família indígena, proibindo o seu desmembramento, mesmo sob o pretexto de educação e catequese das crianças.

            A intenção, entretanto, era transformar o índio em lavradores objetivando sua integração. Desejavam desenvolver a capacidade do silvícola através do trabalho. Acontece que o "modo vivendi" da sociedade indígena, sua harmonia com a natureza, interpretação de sobrevivência alimentar não o possibilita, ter a noção de trabalho semelhante a do homem "civilizado". Desta forma, erroneamente e porque não dizer maldosamente, atribuiram ao índio o defeito da improdutividade e o consideram ilegítimo ao trabalho de subsistência.

            Mais tarde, pode-se notar que o organismo oficial pretendera, ao longo de diversas gestões, custear a política indigenista através do produto do trabalho indígena. Essa mentalidade protecionista desenvolveu-se durante a década de 1960.

            Em seguida, uma nova mentalidade tomou conta das cabeças pensantes da época. A ideologia desenvolvimentista. Neste momento quando dava-se o grito de "Pra Frente Brasil" o índio era um obstáculo ao desenvolvimento nacional.

 

            O milagre brasileiro

            Nesta época o governo de Garrastazum Médice fazia vista grossa para matança de jovens estudantes e políticos nas masmorras e quartéis. O Brasil iniciava a década de 70 com o tricampeonato mundial de futebol enquanto o "Milagre Brasileiro" iniciava processo de cavação do buraco econômico em que a nação se encontra hoje.             O entreguismo e o despotismo provocaram uma invasão indiscriminada de empresas estrangeiras nas plagas brasileiras. Em pouco tempo, a Amazônia Legal e Setentrional foi tomada de assalto.         A fauna e a flora foram estupradas. As madeiras cortadas proporcionando o espetáculo da queda das árvores para o ego ganancioso. O solo foi queimado e o ecossistema vilipendiado.

            Nos dias atuais presenciamos os rios e baías estragados por detritos das fábricas e esgotos urbanos. Os crocodilos em extinção,  piranhas proliferando nos rios. Os componentes químicos dos garimpos contaminam as águas. Os garimpeiros matam os índios.

 

                        A terra invadida...

            Em 1992 o professor Darcy Ribeiro disse: "O importante é estancar a mortandade, combatendo as suas causas, o destino final do índio, sua incorporação ou equistamento, será o desfecho de um processo no qual podemos influir muito pouco".

Mai adiante, o antropólogo e hoje senador da república, completa:

            "A lição que e ele encerra é a de que o trabalho com grupos indígenas já envolvidos e brutalizados pelo contato e ação devastadora do homem branco, a antropologia acadêmica perde muito de seu sentido. Isto porque o antropólogo não pode deixar de encarar um problema que lhe é posto em quase todas as conversas e ações do índio o destino daquela população. Nesta circunstância, os problemas acadêmicos se diluem, pois já não se trata de cuidar uma forma de organização social ou um tempo de troca matrimonial, mas de procurar soluções para o problema de seres humanos que estão testemunhando o desaparecimento de sua sociedade. E para este tipo de questão, a antropologia não tem resposta."

                Última Hora - Ano 1 - Porto Velho, quinta-feira, 11-07-91 - Nº 1; Última Hora - 1 - Rondônia, segunda-feira - 15-07-91. Última Hora, Ano 1 - Rio Branco, sexta-feira, 12/07/91 - Nº 42, sob o título "Índio brasileiro é vítima da integração".

 

 



            O índio Não é Criança Para ser tutelado desta forma

                                               Editoria UH – Amazônia

 

            E lamentável a decisão arbitrária do presidente da Fundação Nacional do Índio - Funai, Sidney Possuelo, em expulsar os missionários norte-americanos e canadenses em atuação nas áreas indígenas do país. A acusação é de os missionários terem omitidos propositalmente dezenas de mortes entre os grupos de índios em Cummapanema, a Oeste do Pará. A decisão animalesca de Possuello tem base num "relatório" enviado a Brasília pelo antropólogo Dominique Gallois, da Universidade de São Paulo.

            Podemos entender, como brasileiros, que após 20 anos de autoritarismo, a nação inicia ainda uma fase de transição política/econômico, social e psicológica. Uma parte do povo nos dias atuais está tão deslumbrado com essa transição, que chega ao ponto de ser até transcendental seu comportamento moral. O exibicionismo e a corrupção um dia encrespado no seio obscuro do poder estão sendo descoberto aos poucos.

            Por causa dessa transição podemos compreender a falta de habilidade de certos homens dentro do novo regime. É o caso do atual presidente da Funai, Sydney Possuello. Com uma decisão unilateral resolve expulsar os missionários americanos e canadenses porque soube de um relatório acusador de um suposto antropólogo.

            Recentemente o ministro da Justiça, Jarbas Passarinho, oriundo das terras acreanas, de formação nas plagas paraenses, portanto um amazônida de berço, ao se referir às provocações  de grupos em Brasília durante a descida da rampa com o presidente Collor, disse: "O governo não vai morder a isca da provocação."

            O próprio ministro não mordeu a isca da provocação mas engoliu um alimento mais indigesto que foi aceitar acusações tais como deste relatório contra os missionários estrangeiros. Dizemos isto porque antes da expulsão dos missionários o ministro Passarinho havia se pronunciado contra a presença dos cristãos nas regiões indígenas da Amazônia. Indireta ou diretamente o presidente da Funai foi incentivado pelo ministro a executar a sentença.

            Este artigo tem por objetivo chamar a atenção do ministro da Justiça para que peça uma CPI sobre estes assuntos. Não acreditamos que os missionários americanos e canadenses tenham realizado o ato de que são acusados. Precisamos escutar os missionários da região. Precisamos ouvir os líderes evangélicos responsáveis pelo trabalho na selva. Vamos chamar os pastores batistas, metodistas e presbiterianos, etc., que são responsáveis pelo trabalho de evangelização dos índios. Vamos clarear esta questão.

            Agora uma pergunta: - Quem é Sidney Possuello? O que está por trás desta decisão. Qual autoridade governamental tem o supremo direito de decidir sobre o destino do índio se a ambição do próprio governante tem transformado o silvícula num traste.? E para finalizar, somos da opinião de que branco não tem condições alguma de presidir a Funai.

            Queremos uma resposta adequada do governo federal.

Última Hora/Acre - Ano 1 - Rio Branco, Sexta-feira, 19.07.91 - nº4

 

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