QUEM É
O DONO DA PUREZA DO AR E DO BRILHO DA ÁGUA?
Como podes comprar ou vender o céu – o calor da
terra? Tal ideia é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar e do brilho da
água. Como podes então compra-los de nós? Decidimos apenas sobre coisas de
nosso tempo. Toda essa terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente,
todas as praias de areia, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada
clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na crença do
meu povo.
Sabemos que o homem branco não compreende o nosso
modo de viver. Para ele, um pedaço de terra é igual a outro. Porque ele é um
estranho que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é
sua irmã; é sua inimiga, e depois de a esgotar, ele vai embora. Deixa para trás
a cova de seu pai, sem remorsos. Rouba a terra de seus filhos. Nada respeita.
Esquece o cemitério dos antepassados e o direito dos filhos. Sua ganância
empobrece a terra e deixa atrás só desertos. Suas cidades são um tormento para
os olhos do homem vermelho. Talvez seja assim por ser o homem vermelho um
selvagem que nada compreende.
Não se pode encontrar paz nas cidades do homem
branco. Nem lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou
o zunir das asas de insetos. Talvez por ser um selvagem que nada entende, o
barulha das cidades é terrível para meus ouvidos... E que espécie de vida é
aquela em que o homem não pode ouvir a voz do corvo noturno ou a conversa dos
sapos no brejo, à noite? Um índio prefere o suave sussurro do vento sobre o
espelho dágua e o próprio cheiro do vento, purificado pela chuva do meio dia e
com o aroma de pinho. O ar é precioso para o homem vermelho. Porque todos os
seres vivos respiram o mesmo ar – animais, árvores, homens.
Não parece que o homem branco se importa com o ar
que respira. Como um moribundo, ele é insensível ao ar fétido.
Se eu me decidir a aceitar, imporei uma condição. O
homem branco deve tratar os animais como se fossem irmãos. Sou um selvagem e
não compreendo que possa ser certo de outra forma. Vi milhares de bisões
apodrecendo nas pradarias abandonadas pelo homem branco que os abatia a tiros
disparados do trem. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo
de ferro passa a ser mais valioso do que um bisão que nós, os índios, matamos
apenas para sustentar a nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se
todos os animais acabassem os homens morreriam de solidão espiritual porque
tudo quanto acontece aos animais pode também afetar os homens. Tudo está
relacionado entre si. Tudo quanto fere a terra fere também os filhos da terra.
Os nossos filhos viram os pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros
sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio e
envenenam seu corpo com alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não tem grande
importância onde passaremos os nossos últimos dias – eles não são muitos. Mais
algumas horas, até mesmo uns invernos, e nenhum dos filhos das grandes tribos
que viveram nesta terra ou que tem vagueado em pequenos bandos nos bosques
sobrará para chorar, sobre os túmulos, um povo que um dia foi tão poderoso e
cheio de confiança como o nosso.
De uma coisa sabemos que o homem branco talvez tenha
um dia a descobrir: o nosso Deus é o mesmo Deus. Julgas, talvez, que podes ser
dono dele da mesma maneira como desejas possuir a nossa terra. Mas não podes.
Ele é Deus de todos. E quer bem da mesma maneira ao homem vermelho como ao
branco. A terra é amada por Ele. Causar dano à terra é causar desprezo pelo
Criador... O homem branco também vai desaparecer talvez mais depressa do que as
outras raças. Continuas sujando tua própria cama e hás de morrer, uma noite,
sufocado nos teus próprios excrementos! Depois de abatido o último bisão e
domados todos os cavalos federem a gente, quando as colinas escarpadas encherem
de fios que falam, onde ficarão então os sertões? Terão acabado. E as águias?
Terão ido embora. Restará dar adeus à andorinha da torre e à caça, o fim da
vida e o começo da luta para sobreviver.
Talvez compreendêssemos com que sonha o homem
branco, se soubéssemos quais as esperanças que transmite aos seus filhos nas
longas noites de inverno, quais visões do futuro oferece para que possam ser
formados os desejos do dia de amanhã, mas nós somos selvagens. Os sonhos do
homem branco são ocultos para nós. E por serem ocultos, temos de escolher o
nosso próprio caminho. Se consentirmos na venda, é para garantir as reservas
que nos prometestes. Lá talvez possamos viver os nossos últimos dias conforme
desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança
não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu
povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um
recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se te vendermos a nossa terra,
ama-a como nós a amamos. Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueça como
era a terra quando dela tomaste posse. E com toda a tua força, o teu poder e
todo o teu coração, conserva-a para os teus filhos, e ama-a como Deus nos ama a
todos. Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é querida por
Ele. Nem mesmo o homem pode evitar o nosso destino comum.
A
HISTÓRIA TESTEMUNHA A CANIFICINA
A carta acima, traduzida da revista norueguesa
Norsk Natur (1974), foi escrita em 1885, pelo cacique Seathl, da tribo
Duwamish, do Estado de Washington, ao então presidente dos Estados Unidos,
Franklin Pierce, depois que o governo deu a entender que desejava adquirir o
território da tribo.
Embora antigas, suas palavras revelam, que o
pensamento ecológico não é exclusivo dos dias de hoje. E mostram como continuam
atuais no mundo.
As cinzas do cacique Seathl e dos remanescentes de
sua tribo jazem agora muito longe das terras em que viveram. Foram imolados em
nome da tese, então vigente, de que a conquista das novas terras do Oeste, com
a simultânea remoção dos índios, era imprescindível ao progresso. A carnificina
não parou por aí. Outros governantes, somente no Século XX, em nome da revolução
socialista, da limpeza étnica e de Deus, exterminaram milhares e milhares de
pessoas.
Ao apagar das luzes do segundo milênio chega-se a
seguinte conclusão: O mundo é um navio sem rumo. E o que é pior, se alguns
homens bárbaros não tivessem sido eleitos a governantes, centenas de milhares
de vidas não seriam sacrificadas cruelmente nas mais diferentes formas de
torturas e práticas de extermínios. Veja a seguir a verdade sobre os inimigos
da humanidade e a competência que o mundo possui de produzir líderes:
Os
protagonistas da violência
Mao Tsé
Tung. Quantas mortes provocou: entre 20
milhões e 40 milhões, levando em conta as vítimas da fome provocadas pela
transferência forçados dos agricultores para a indústria.
Em nome de quê? Da Revolução Socialista, da Revolução
Cultural, da manutenção do fervor revolucionário e da formação de um “novo
homem chinês”. Como chegou ao poder: Em 1926 liderou uma série de rebeliões
camponesas. Perseguiu, comandou entre 1934 e 1935 a Grande Marcha, levando as
suas tropas em direção ao Nordeste do pais e se firmando como o novo líder
comunista chinês. Tornou-se chefe de estado em 1949 com a proclamação da
República Popular da China.
Josef
Stalin. Quantas mortes provocou: Entre 15 e 20
milhões, sem levar em conta das vítimas da fome provocada pela coletivação
forçadas dos campos.
Em nome de quê? Da implantação do socialismo, no
campo da industrialização da União Soviética, da ditadura do proletariado e do
esmagamento das resistências nacionalistas 1° Criação da União Soviética.
Como chegou ao poder: Depois da revolução de 1917,
tornou-se comissário das nacionalidades do Conselho dos Comissários do Povo.
Com a morte de Lênin, em 1924, assumiu a chefia do Partido Comunista e se
desfez de seus inimigos. Governou até a morte, em 1953.
Adolf
Hitler. Quantas mortes provocou. Seis milhões
somente de judeus, além de cinco milhões de soldados alemães e milhares de
aliados mortos na II Guerra.
Em nome de quê? Da supremacia da raça ariana, da
limpeza étnica na Europa e da conquista do Continente Europeu.
Como chegou ao poder: Filiou-se ao Partido dos
Trabalhadores Alemães na década de 20. Embora tenha perdido a eleição para
presidente em 1932, conquistou os alemães, que viam no estado autoritário a
única saída para a desesperadora crise econômica, e se transformou chanceler.
Pol
Pot. Quantas mortes provocou: Três milhões.
Em nome de Quê? Da revolução a qual pretendia erradicar o capitalismo do
Camboja, o regime de propriedade feudal a herança do colonialismo francês e o
obscurantismo budista.
Como chegou ao poder: Liderava o Partido Comunista
que se aliou ao grupo guerrilheiro Khmer Vermelho na guerra civil contra o
general Lon Nol, apoiado pelos EUA. No dia 1° de abril de 1975, os guerrilheiros
conquistaram a capital e, meses depois, Pol Pot assumiu o novo governo.
Talaat
Paxá. Quantas mortes provocou: 1,2 milhão
durante o massacre do povo armênio. Em nome de quê? Da limpeza étnica na
Turquia.
Como chegou ao poder: Ingressou no Movimento
Nacionalista Jovem Turco, que controlava o então Império Otomano, em 1908. No
ano seguinte foi eleito deputado e apontado como ministro do interior da
Turquia. Deu a ordem para aniquilar os armênios em 1915.
0 comentários:
Postar um comentário