domingo, 14 de outubro de 2012

O FIM DA MÁFIA EM SEROPÉDICA E BAIXADA

Derrota nas urnas põe fim à dinastia de figurões da Baixada

Clã dos Cozzolino também vê prestígio e influência acabarem em Magé

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Antes conhecido como o Rei da Baixada, Zito, prefeito de Caxias, não se reelegeu
Foto: Roberto Moreira/07-10-2012
Antes conhecido como o Rei da Baixada, Zito, prefeito de Caxias, não se reelegeuRoberto Moreira/07-10-2012
O olhar fixo e distante para fora da janela do gabinete, a fisionomia abatida e a voz embargada não deixam qualquer dúvida. Ele não é mais o cara. Derrotado nas urnas, o prefeito de Duque de Caxias, José Camilo Zito (PP), amarga agora apenas o papel de coadjuvante na política fluminense. Zito é o retrato de uma eleição em que clãs como o do contraventor Aniz Abrahão David, o Anísio, e o da família Cozzolino perderam o poder em municípios da Região Metropolitana e no interior do Rio. No auge da popularidade, no início da década de 2000, Zito conseguiu eleger prefeitos o irmão Waldir (Belford Roxo) e a então mulher Narriman (Magé). De quebra, angariou votos que levaram a filha Andréia à Câmara Federal. Zito está no terceiro mandato e ganhou o apelido de Rei da Baixada. Era cortejado por uma nata de políticos influentes. Ascensão e queda.


— A derrota foi inesperada, mas respeito a decisão do povo. Não foi um julgamento do político Zito e sim do meu governo. Tivemos muitos problemas — lamenta ele, em entrevista ao GLOBO.
Ressentimento do governador
Zito saiu do PSDB em 2010. Nunca concordou com a aliança entre os tucanos e o PV de Fernando Gabeira nas eleições municipais de 2008. Filiou-se ao PP a convite do senador Francisco Dornelles e do governador Sérgio Cabral. Com 72.973 votos dos 607.663 em disputa, Zito ficou em terceiro lugar domingo passado. Foram para o segundo turno em Caxias Alexandre Cardoso (PSB) e Washington Reis (PMDB), este com o apoio de Cabral.
— Se ele (Cabral) disse agora na campanha do meu adversário que ia resolver o problema da falta de água na cidade, por que então ele não fez isso no meu governo? — pergunta Zito, ressentido. — O futuro a Deus pertence. Tenho certeza que o político Zito se fortalecerá naturalmente ao longo do tempo.
Banqueiro do jogo do bicho, Anísio tentou emplacar a “família Beija-Flor” em prefeituras da Baixada Fluminense e na Região Serrana. Em Nilópolis, município administrado há décadas pelo clã (cinco parentes já foram prefeitos), Anísio fracassou na reeleição do sobrinho Sérgio Sessim (PP), segundo colocado com 46.312 votos. A vitória foi de Alessandro Calazans (PMN), com 48.137 eleitores.
Não adiantou o apelo no material de propaganda eleitoral espalhado nas rucom fotos do sorridente contraventor ao lado de Sérgio Sessim e a frase: “Anísio pede o seu voto”. Condenado pela Justiça Federal, em março, a 48 anos e oito meses de prisão por formação de quadrilha e corrupção, o bicheiro teve de se contentar com o também sobrinho Abraãozinho David (PSD), eleito vereador.
Em Mesquita, cidade vizinha, Anísio indicou o irmão, Farid Abrão (PDT), ex-prefeito de Nilópolis (2001-2008) e ex-presidente da Beija-Flor. Ele foi derrotado pelo desconhecido Gelsinho Guerreiro (PSC) por 41.608 a 24.466 votos. A candidatura de Farid chegou a ser vista pelos adversários como uma desavença familiar já que ele teve de dar a vez para a reeleição de Sérgio Sessim.
Anísio sofreu ainda com a derrota do amigo e candidato a prefeito de Teresópolis, Mário Tricano (PP), que teve o registro indeferido pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ).
Amadurecimento e cansaço popular
Ex-prefeita de Magé, Núbia Cozzolino também viu a dinastia da família ruir. O clã dominava a política local desde a década de 1980. Ela foi afastada do cargo por abuso de poder político e econômico em 2009 e cassada no ano seguinte. Restou à Núbia e aos parentes apoiarem a candidatura de Ricardo da Karol (PSB), derrotado com 33.435 votos contra 88.098 do prefeito reeleito Nestor Vidal (PMDB).
Os Cozzolino ficaram de fora até da Câmara municipal. Os irmãos de Núbia, Dinho (PR) e Marcelle Cozzolino (PTdoB), perderam a disputa para o cargo de vereador. Em Guapimirim, a família apostou no candidato a prefeito Cesar do Modelo (PTdoB). Outra derrota.
— A saída dessas famílias do poder é fruto do amadurecimento, do regime republicano e do processo democrático. Nos últimos anos, foram as mudanças mais significativas na política do Rio. Mostra que o eleitor tem mais acesso à informação e à educação — afirma Eurico Figueiredo, professor de pós-graduação de Ciências Políticas da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Para Marly Motta, historiadora e especialista em política fluminense da Fundação Getulio Vargas (FGV), o fenômeno caracteriza uma “cansaço popular”. Segundo ela, as mudanças eram previstas:
— Já há uma movimentação dos partidos para se articularem visando às eleições de 2014. Vão buscar alternativas depois da queda dos clãs.
Procurada pelo GLOBO, a assessoria de imprensa de Anísio informou que ele está viajando. Simão Sessim não retornou as ligações. Ninguém da família Cozzolino foi encontrado, assim como Farid Abrão.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/pais/derrota-nas-urnas-poe-fim-dinastia-de-figuroes-da-baixada-6390902#ixzz29INjlSwG
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