Mesmo após perder quatro ministros num prazo de dois meses e doze dias - três deles por suspeita de envolvimento em irregularidades e outro por falar mal dos colegas - e desencadear uma ofensiva de sedução dos partidos da base aliada, a presidente Dilma Rousseff não conteve a crise política da Esplanada. Setores do PMDB já falam abertamente na demissão de Pedro Novais do Turismo. Afora isso, o ministro Paulo Bernardo (Comunicações) entrou na mira da oposição por suposta carona em jato particular e deve seguir hoje o script do desgaste: convidado a falar na Câmara sobre radiodifusão digital, será questionado sobre o fato. O PSDB disse que tentará convocá-lo a depor futuramente.
Ontem, Bernardo e a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, foram obrigados a divulgar nota sobre o uso de jatinhos privados na campanha eleitoral, em mais um dia de tensão na Esplanada. O ministro admitiu que, nos fins de semana, durante a campanha eleitoral de 2010, utilizou aeronaves de várias companhias - embora não tenha condições de citar quais. Paulo Bernardo disse que todas as viagens foram pagas pela coligação dos partidos em campanha no Paraná. 'São de grande irresponsabilidade as ilações que tentam fazer sobre meu comportamento como ministro de Estado e o uso de aeronaves particulares. Jamais solicitei ou me foi oferecido qualquer meio de transporte privado em troca de vantagem na administração pública federal', disse.
A oposição quer sitiá-lo hoje com perguntas sobre viagens em aviões da Construtora Sanches Tripoloni, que presta serviços ao governo, principalmente na área de infraestrutura, conforme revelou reportagem da revista Época do fim de semana.
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou ontem que, 'tal como postas na imprensa', as denúncias contra Paulo Bernardo 'são graves'. Mas afirmou que é preciso ver 'caso a caso' se existe 'promiscuidade' nos episódios de autoridades públicas viajando em jatos particulares de empresários.
'Temos de ver caso a caso se efetivamente essa promiscuidade existe. Se existir, efetivamente é indesejável', afirmou Gurgel. 'O Ministério Público não pode se precipitar e formar o seu juízo a partir de notícias divulgadas pela imprensa. Ele precisa, a partir dessas notícias, reunir elementos que permitam formar um juízo seguro a respeito.'
Afastamento. Para aumentar a crise, desentendimentos na bancada do PMDB podem contribuir para a queda de Novais. A vice-presidente da Câmara, Rose de Freitas (PMDB-ES), exigiu ontem o afastamento do ministro do Turismo, cuja indicação foi bancada pelo líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN) e pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). 'O Pedro Novais precisa sair. Ele tem uma história política e de vida e para reafirmá-la não pode ficar nessa de 'não sabia'. Para mim, ele participa, ele tem responsabilidade no que aconteceu no Turismo. Se eu vou montar uma equipe e tem pessoas assim, eu não aceito', disse Rose .
Dilma participa hoje de jantar com o PMDB para evitar o racha no partido. Parte significativa da bancada contesta a condução de Henrique Alves. Há deputados que reclamam dos critérios para a distribuição de relatorias. Afirmam que só parlamentares próximos a ele conseguem ficar à frente de projetos importantes.
Contra Alves pesa também o apoio a Novais. Parte do PMDB considera o ministro 'omisso' por permitir que o então secretário executivo, Frederico Costa, comandasse a pasta. Costa foi um dos presos na Operação Voucher da Polícia Federal.
'Fachada'. O líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), cobrou uma faxina séria por parte da presidente. Para ele, ante as notícias divulgadas no fim de semana, Dilma está fazendo uma 'limpeza de fachada', porque dá tratamento diferente aos ministros que cometeram deslizes. Nogueira verbaliza as queixas do PR, cuja cúpula dos Transportes foi degolada com a publicação de suspeitas de irregularidades cometidas por dirigentes do setor, quase todos vinculados ao partido.
Ao contrário do que ocorreu com o PR, quando as denúncias atingiram o ministro da Agricultura, Wagner Rossi (PMDB), Dilma lhe deu todo apoio. Rossi saiu só quando não havia mais como sustentá-lo. 'A crise parece não ter fim. Surgem novas denúncias semanalmente e pouco ou quase nada tem sido feito de prático', disse o líder do PSDB.