Beltrame diz que Nem pode ajudar a elucidar casos de corrupção policial
Traficante foi preso no dia 11, às vésperas da Operação Choque de Paz.
Secretário diz que medida judicial para obter informações seria importante.
O secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, disse, na manhã desta segunda-feira (14), que apoiaria o oferecimento de proteção judicial para o traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem, para que ele contribua com a Justiça. O traficante, que é apontado como o chefe do tráfico na Rocinha, está preso desde o dia 11 de novembro."Seria uma oportunidade importantíssima o oferecimento de alguma medida judicial para que ele pudesse contribuir com a Justiça e, obviamente, com a polícia. Qualquer tipo de palavra ou assunto no depoimento dele vai ser minuciosamente [analisado]", afirmou Beltrame nesta manhã em entrevista ao Bom Dia Brasil.
Segundo Beltrame, mesmo que o tráfico de drogas continue na Rocinha após a ocupação policial realizada no domingo (13), haverá também a presença da polícia e o acompanhamento da situação. "Nós vamos acompanhar essa migração. Muitos dizem que há uma migração, mas o que há na verdade é somente o deslocamento de lideranças, já que a maioria das pessoas que trabalha no tráfico não tem nem condições de sair dali", disse.
Ele afirma também que é possível que milícias tentem atuar nos locais antes ocupados pelo tráfico de drogas. "Nós não podemos deixar de não pacificar a Rocinha, de não pacificar o Alemão, com medo da corrupção", afirmou Beltrame. "Agora, cabe a nós também observar para que não haja corrupção e para que não haja milícia"
Rendição
Sobre as negocipações para a rendição de Nem antes e após a prisão dele, Beltrame afirmou que vai investigar o motivo pelo qual o traficante escolheria uma determinada delegacia para se entregar.
O secretário disse também que a possibilidade de rendição de criminosos não deve ser descartada. “Nós não podemos desprezar a possibilidade de rendições, mas em contrapartida nós não podemos ceder a dar condições, porque render-se é um ato voluntário. Nós não podemos desprezar a possibilidade de uma pessoa como o Nem, na época, demonstrar isso”.
Para o secretário a Operação Choque de Paz foi "um trabalho de inteligência e não de guerra" e a relação da sociedade com a polícia melhorou. "A figura da secretaria e do secretário e também das instituições melhorou muito, mas ao longo do tempo, do passado, eu acho que a sociedade se afastou da polícia e a polícia se afastou da sociedade. Isso não foi em vão, até pelas ações que não tinham muito planejamento das polícias. Acho que essas instituições muitas vezes eram jogadas a ações de guerra, ao invés de serem feitas ações de prestação de serviços".
Movimentação na Rocinha
Na manhã desta segunda-feira (14), a movimentação na Rocinha é tranquila. No Largo do Boiadeiro, é grande o número de pessoas que saem de casa para trabalhar. Policiais permanecem no local, distribuídos pelos principais acessos à comunidade. As escolas seguem fechadas e só devem reabrir na quarta-feira (16).
Segundo Beltrame, por se tratar de uma área muito grande, ainda há muitos pontos a serem vasculhados. Mesmo após a prisão de Nem, a polícia acredita que cerca de 200 criminosos ainda podem estar escondidos na Rocinha. "É no mínimo temerário dizer que não tem mais ninguém naquele lugar. E o objetivo da polícia estar num lugar desse de uma forma maciça é exatamente no sentido de identificar estas pessoas ou qualquer outro equipamento criminoso que eles, por ventura, eles possam ter”, disse Beltrame.
Operação
No domingo (13), durante o primeiro dia de ocupação nas três comunidades, a polícia prendeu quatro pessoas, apreendeu 20 pistolas, 15 fuzis, duas espingardas e uma submetralhadora, além de 20 rojões e três granadas. Parte do armamento encontrado estava enterrada em uma viela da Rocinha.
Favelas tomadas após 2 horas e sem disparos
A retomada das favelas pelas forças de segurança começou por volta de 4h. A ação durou 2 horas e não houve troca de tiros. A megaoperação reúniu 3 mil homens das polícias Civil, Militar, Federal e Rodoviária Federal, além de 194 fuzileiros navais, 18 veículos blindados, 4 helicópteros da PM e 3 da Polícia Civil. Os helicópteros jogaram panfletos com números de telefones para denúncias.
Outros 1,3 mil homens se espalharam por toda a cidade. Foram montados bloqueios nas principais saídas do Rio.
Na Rocinha, homens do Bope usaram um trator para recolher motos roubadas que tinham sido abandonadas na rua. No Vidigal, colchões queimados e óleo jogado na pista, além de lixo e uma televisão, foram alguns dos obstáculos usados por criminosos para tentar impedir a retomada do território (Veja vídeo acima).
Às 6h08, pouco mais de duas horas depois do início da operação, segundo a Secretaria de Segurança, o território de 840 mil m2 da Rocinha e os 70 mil moradores estavam livres do domínio dos traficantes.
No início da tarde, as bandeiras do Brasil e do estado do Rio de Janeiro eram hasteadas nas favelas do Vidigal e da Rocinha para oficializar a retomada do território. No Vidigal, a informação é de que 160 homens do Batalhão de Choque vão permanecer na comunidade até que a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) seja implantada.
A polícia pede ainda que a população continue colaborando, dando informações sobre criminosos, armas e drogas escondidos nas favelas da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu. "Denunciem e ajudem. A população pode ligar para o Disque-Denúncia (2253-1177) ou para o 190 para nos ajudar a localizar criminosos, armas e drogas. Permaneceremos nas comunidades por tempo indeterminado", frisou o chefe de Estado Maior Operacional da Polícia Militar, coronel Pinheiro Neto
0 comentários:
Postar um comentário