Estudo identifica práticas comuns de escolas com bons resultados em áreas pobres
- Direito de aprender para todos: Fundação Lemann acompanhou de perto seis colégios públicos de excelência
RIO — O que há em comum entre escolas que, mesmo atendendo alunos pobres, conseguem fazer com que todos tenham acesso a um ensino de qualidade? Para responder a esta pergunta, a Fundação Lemann acompanhou de perto seis colégios públicos — no Rio, em Sobral (CE), Pedra Branca (CE), Palmas (TO), Acreúna (GO) e Foz do Iguaçu (PR) — que hoje têm pelo menos 70% dos alunos no nível adequado em Matemática e Português e apenas 5% de conceito insuficiente no primeiro ciclo do ensino fundamental.
— Partimos de 215 escolas para chegar a essas seis. Usamos a Prova Brasil para saber a escolaridade e a ocupação dos pais e ainda os bens que têm em casa, com foco nos alunos do 5º ano — conta Ernesto Faria, coordenador de projetos da Fundação. — Daí, focamos em experiências que podem ser replicadas em outros lugares. Quando a gente fala em melhorar, por exemplo, a formação inicial e o plano de carreira, isso demanda esforços diversos. Essas escolas, no entanto, investem no que está mais à mão, mais fácil de alcançar.
A pesquisa foi feita depois que O GLOBO publicou a reportagem “Aula de Excelência na Pobreza”, vencedora do Prêmio Esso de Educação. A série contava, a partir de levantamento em parceria com a Fundação Lemann, a história de boas escolas públicas em áreas carentes.
Entre as ações que podem ser replicadas, quatro são comuns a todas as escolas visitadas. Em Pedra Branca e Sobral, no Ceará, e Foz do Iguaçu, no Paraná, a pesquisa constatou que as secretarias de Educação trabalharam para identificar os pontos fracos em relação ao aprendizado, passaram a acompanhar os resultados das avaliações e, a partir daí, desenvolveram um plano para recuperar o ensino. Tudo com metas claras e com foco bastante específico: fazer com que todos os alunos aprendam o conteúdo esperado para sua série na idade certa.
As escolas visitadas em Acreúna, em Goiás, no Rio e em Palmas, no Tocantins, passaram pelo mesmo processo, ainda que ele não tenha sido estendido para toda a rede.
— Isso nos fez ver que tão importante quanto a política a ser desenvolvida é a maneira como é implementada, se tem ou não acompanhamento contínuo. No caso do acompanhamento das secretarias de Educação, se o professor acha que está sendo monitorado, se não acredita na meta, vai ser difícil ir adiante. Não adianta ter a ideia mais brilhante se quem está na ponta, o professor, não acreditar nela — diz Faria, lembrando que nessas escolas as secretarias agiram de modo que todos percebessem que estavam sendo ajudados com soluções.
Bônus para professores
Para estimular que as metas fossem cumpridas, as redes passaram a dar bônus aos professores que garantem o aprendizado de seus alunos. Em algumas secretarias, se a escola vai bem no Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (Ideb), todos recebem bônus. Em Foz, por exemplo, os profissionais das unidades que conquistam desempenho maior ou igual à meta do Ideb recebem o 14º salário.
Para cumprir as metas, as escolas passaram a ter que acompanhar de perto o aprendizado dos alunos. “O nosso trabalho é todo dia, é corpo a corpo, uma dedicação diária”, conta um professor entrevistado pelos pesquisadores. “Nossa rotina é de acompanhamento individual do professor e do aluno, se atentando ao que eles estão precisando”, explica um coordenador pedagógico.
Algumas escolas estabeleceram avaliações oficiais, que ajudam a identificar os estudantes que precisam de reforço escolar. Em Foz do Iguaçu, a equipe da Secretaria de Educação percorre as escolas e analisa os cadernos dos alunos do 4º e 5º anos, além de observar a aula dada.
— Percebemos que o modelo não se limita a relatar para a Secretaria o que foi visto, mas se preocupa em mostrar como é possível melhorar. Foz tem 51 escolas municipais e a pior tem 65% dos alunos no nível adequado de aprendizado — conta Faria.
Com os dados em mãos, passaram a investir em formação continuada. Em Pedra Branca, quando a avaliação aponta que um determinado professor consegue ensinar um conteúdo em que os outros têm dificuldades, ele é chamado para explicar o método.
Nas seis escolas, os estudantes que têm desempenho acima da média são estimulados e recebem treinamento para participar, por exemplo, de olimpíadas de conhecimento. Outro ponto comum entre elas é que nenhuma medida é tomada com base na intuição. “A gente achava que podia transformar com o nosso conhecimento de senso comum. Só que a gente viu que não, que precisava de conhecimento científico”, diz um coordenador pedagógico entrevistado pelos pesquisadores.
As escolas pesquisadas conseguiram ainda criar um ambiente agradável, que deixa os alunos à vontade para aprender. As unidades são seguras, limpas e têm prédios preservados. Algumas contam com psicólogos, fonoaudiólogos e nutricionistas.
— Isso é fundamental, porque os alunos precisam estar num lugar em que se sintam bem e que os ajude a lidar com o ambiente fora da escola — diz Faria. — Vimos que as crianças gostam da escola, citam professores específicos, fazem desenhos retratando o local. E também que os pais não são chamados apenas quando os filhos vão mal. A participação deles é incentivada. Se eles vão à escola, mesmo que sejam analfabetos e não possam auxiliar no dever de casa, podem checar se foi feito. Já é um passo muito importante.
— Partimos de 215 escolas para chegar a essas seis. Usamos a Prova Brasil para saber a escolaridade e a ocupação dos pais e ainda os bens que têm em casa, com foco nos alunos do 5º ano — conta Ernesto Faria, coordenador de projetos da Fundação. — Daí, focamos em experiências que podem ser replicadas em outros lugares. Quando a gente fala em melhorar, por exemplo, a formação inicial e o plano de carreira, isso demanda esforços diversos. Essas escolas, no entanto, investem no que está mais à mão, mais fácil de alcançar.
A pesquisa foi feita depois que O GLOBO publicou a reportagem “Aula de Excelência na Pobreza”, vencedora do Prêmio Esso de Educação. A série contava, a partir de levantamento em parceria com a Fundação Lemann, a história de boas escolas públicas em áreas carentes.
Entre as ações que podem ser replicadas, quatro são comuns a todas as escolas visitadas. Em Pedra Branca e Sobral, no Ceará, e Foz do Iguaçu, no Paraná, a pesquisa constatou que as secretarias de Educação trabalharam para identificar os pontos fracos em relação ao aprendizado, passaram a acompanhar os resultados das avaliações e, a partir daí, desenvolveram um plano para recuperar o ensino. Tudo com metas claras e com foco bastante específico: fazer com que todos os alunos aprendam o conteúdo esperado para sua série na idade certa.
As escolas visitadas em Acreúna, em Goiás, no Rio e em Palmas, no Tocantins, passaram pelo mesmo processo, ainda que ele não tenha sido estendido para toda a rede.
— Isso nos fez ver que tão importante quanto a política a ser desenvolvida é a maneira como é implementada, se tem ou não acompanhamento contínuo. No caso do acompanhamento das secretarias de Educação, se o professor acha que está sendo monitorado, se não acredita na meta, vai ser difícil ir adiante. Não adianta ter a ideia mais brilhante se quem está na ponta, o professor, não acreditar nela — diz Faria, lembrando que nessas escolas as secretarias agiram de modo que todos percebessem que estavam sendo ajudados com soluções.
Bônus para professores
Para estimular que as metas fossem cumpridas, as redes passaram a dar bônus aos professores que garantem o aprendizado de seus alunos. Em algumas secretarias, se a escola vai bem no Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (Ideb), todos recebem bônus. Em Foz, por exemplo, os profissionais das unidades que conquistam desempenho maior ou igual à meta do Ideb recebem o 14º salário.
Para cumprir as metas, as escolas passaram a ter que acompanhar de perto o aprendizado dos alunos. “O nosso trabalho é todo dia, é corpo a corpo, uma dedicação diária”, conta um professor entrevistado pelos pesquisadores. “Nossa rotina é de acompanhamento individual do professor e do aluno, se atentando ao que eles estão precisando”, explica um coordenador pedagógico.
Algumas escolas estabeleceram avaliações oficiais, que ajudam a identificar os estudantes que precisam de reforço escolar. Em Foz do Iguaçu, a equipe da Secretaria de Educação percorre as escolas e analisa os cadernos dos alunos do 4º e 5º anos, além de observar a aula dada.
— Percebemos que o modelo não se limita a relatar para a Secretaria o que foi visto, mas se preocupa em mostrar como é possível melhorar. Foz tem 51 escolas municipais e a pior tem 65% dos alunos no nível adequado de aprendizado — conta Faria.
Com os dados em mãos, passaram a investir em formação continuada. Em Pedra Branca, quando a avaliação aponta que um determinado professor consegue ensinar um conteúdo em que os outros têm dificuldades, ele é chamado para explicar o método.
Nas seis escolas, os estudantes que têm desempenho acima da média são estimulados e recebem treinamento para participar, por exemplo, de olimpíadas de conhecimento. Outro ponto comum entre elas é que nenhuma medida é tomada com base na intuição. “A gente achava que podia transformar com o nosso conhecimento de senso comum. Só que a gente viu que não, que precisava de conhecimento científico”, diz um coordenador pedagógico entrevistado pelos pesquisadores.
As escolas pesquisadas conseguiram ainda criar um ambiente agradável, que deixa os alunos à vontade para aprender. As unidades são seguras, limpas e têm prédios preservados. Algumas contam com psicólogos, fonoaudiólogos e nutricionistas.
— Isso é fundamental, porque os alunos precisam estar num lugar em que se sintam bem e que os ajude a lidar com o ambiente fora da escola — diz Faria. — Vimos que as crianças gostam da escola, citam professores específicos, fazem desenhos retratando o local. E também que os pais não são chamados apenas quando os filhos vão mal. A participação deles é incentivada. Se eles vão à escola, mesmo que sejam analfabetos e não possam auxiliar no dever de casa, podem checar se foi feito. Já é um passo muito importante.
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