Cármen Lúcia: Justiça está apta para filtrar os candidatos
BRASÍLIA - A nova presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Cármen Lúcia, já chama a atenção dos funcionários pelo ritmo intenso de trabalho. Mineira de Espinosa, 58 anos completados na quinta-feira, um dia após ser a primeira mulher a assumir o comando da Justiça Eleitoral, a ministra Cármen, por trás da fala mansa e do jeito sereno, mostra determinação em fazer eleições que correspondam à expectativa da população após a aprovação da Lei da Ficha Limpa. Ela garante que a Justiça Eleitoral está apta para filtrar os candidatos pela nova lei. Segundo ela, para moralizar a política, as pessoas devem escolher bem seus candidatos. Sobre ser tratada por presidente ou presidenta, responde: "Podem me chamar como quiserem, essa é a Casa da Democracia".
O GLOBO: Este será o primeiro ano em que a Lei de Ficha Limpa vai entrar em vigor. A Justiça Eleitoral está preparada para filtrar os candidatos?
CÁRMEN LÚCIA: Os tribunais estão preparados para aplicar integralmente a Lei da Ficha Limpa. Da minha parte, vou dar prioridade. Meu primeiro ato foi um encontro com os 27 presidentes dos Tribunais Regionais Eleitorais para que a gente dê toda a prioridade, faça sessões extras se forem necessárias, para julgar todos os casos de impugnações a registros, para dar uma resposta ao cidadão brasileiro sobre quem está em condições de se candidatar e quem não está.
A senhora acha que a qualidade da política brasileira depois das eleições desse ano vai melhorar?
CÁRMEN LÚCIA: Acho que tem tudo para que isso aconteça, porque o cidadão brasileiro é que tomou a iniciativa da lei. Se ele quis a Lei da Ficha Limpa, ele quer agora o voto limpo. Este sim é o grande passo adiante.
A senhora acha que os partidos vão tomar mais cuidado na hora de escolher seus candidatos?
CÁRMEN LÚCIA: Sim, porque os partidos sabem do rigor da lei e, principalmente, da atuação firme da justiça eleitoral. Desde o primeiro momento, os órgãos da Justiça Eleitoral foram favoráveis à aplicação da lei.
A senhora acha que os políticos de hoje são reflexo da sociedade?
CÁRMEN LÚCIA: Ela não se enxerga (nesses políticos). Se ela se enxergasse, estaria satisfeita com o quadro estatal, e não está.
Como a senhora avalia a classe política hoje?
CÁRMEN LÚCIA: Não sou das que acham que só tem pessoas mal intencionadas, pelo contrário. Eu acho que há pessoas bem intencionadas, acho que há pessoas que querem que o Brasil dê certo. O cidadão escolheu todos, alguns não deram certo. Eu acho que o cidadão brasileiro sabe o que faz e acho que cada vez mais vai fazer para acertar. Isso é um processo. A cada dia que passa e a cada problema que surge o povo fica mais esperto.
Hoje existem 30 partidos no Brasil, muitos deles sem ideologia ou programa. A senhora não vê algo errado nesse cenário?
CÁRMEN LÚCIA: Apesar de achar que 30 partidos é muito, eu acho que quem tem que fazer essa seleção naturalmente é o eleitor. Se forem fazer uma reforma para diminuir o número de partidos, é preciso considerar que é princípio constitucional o pluralismo na sociedade. Isso tem que ser entregue para a sociedade discutir. Nós juízes fazemos Direito, quem faz o milagre da transformação é a sociedade.
Qual a avaliação que a senhora faz do governo da presidente Dilma Rousseff?
CÁRMEN LÚCIA: Gosto muito da atuação firme quanto aos valores éticos e da busca da eficiência, porque já passou o tempo em que a gente podia imaginar que o cidadão ia acreditar que o serviço público podia ter escolas feias ou deficientes. Não, a gente quer cultura, a gente quer boas escolas, a gente quer o telefone funcionando e ela tem muito essa presença. Ela tem essa certeza de que, quando você chega em casa, quer saber se a criançada toda está na aula. É preciso ter jantar para todos e o jantar tem que estar na mesa na hora certa. E tem que ter a mesa para colocar, porque tem a dignidade, e ela tem muito isso. Eu a avalio muito bem. Ela aprendeu que a política é para realizar fins e que esses fins são concretos.
Pode ser que no meio do processo eleitoral o STF tenha de julgar o mensalão. A senhora vê problema nessa mistura?
CÁRMEN LÚCIA: Nunca misturará do ponto de vista dos juízes, porque nós temos as duas atividades. Um tribunal não pode parar o outro. Para mim, na hora em que o ministro Ayres Britto (presidente do STF) pautar, eu estarei habilitada a votar.
A senhora acha que é preciso julgar logo o processo?
CÁRMEN LÚCIA: A sociedade está esperando uma resposta. Quanto antes, melhor.
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