Publicado no jornal Foco Popular na 1º Quinzena de agosto de 2004
Após o restabelecimento da democracia em 1985, o País iniciou processo de rescaldo, que - esperamos todos -, seja concluído com o término da Era Lula.
O período que aqui denominamos de Entulho da Resistncia comecçou em 1995 com a eleiçao de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Esse período, por sua vez, pôs fim a era do denominado Entulho Autoritário, em contraste com a libertinagem que provocou a febre do “tudo posso” em todo o Brasil.
A subida ao poder de FHC foi a primeira etapa do entulho da resistência. Acompanhado de ex-presos políticos, intelectuais e figuras públicas, Fernando Henrique Cardoso chegou ao Palácio do Planalto por cima do muro, devido a ideologia política de sua sigla partidária, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
O PSDB foi a saída encontrada por uma equipe de líderes da resistência ao Golpe Militar de 64 e a ditadura que o acompanhou por longos 21 anos.
Personalidades ilustres como Franco Montoro, José Serra, Mário Covas, Hélio Bicudo, Fernando Henrique Cardoso e tantos outros quadros, componentes da história da resisitência - na maioria originários do Movimento Democratico Brasileiro (MDB) -, perceberam que o poder nacional jamais seria conquistado por uma sigla de esquerda como o MDB, PT, PC do B, PCC, sem antes haver uma fase intermediária, a que se propuseram. Nasceu então, o Partido da Social Democracia Brasileira, o PSDB.
Desta forma a esquerda ficou dividida. Houve protestos e até vaias com gritinhos de “traidores”, etc. O fato é que a esquerda continha a figura de Luiz Inácio Lula da Silva e a chamada grande imprensa, além da maioria da classe artística. Durante muito tempo o PSDB foi taxado de “Partido de cima do muro”, pela imprensa nacional.
O novo partido oriúndo das bases de resistência chega ao poder exercendo o papel de intermediário e porta de entrada da esquerda ao Palácio do Planalto.
Os homens cabeludos, barbudos e que usavam calcas estilo boca de sino, fãns dos beatles, da Tropicália, Jovem Guarda levaram muitas cassetetadas da PM e da PA, passaram pelo DOI-CODI em viagens dolorosas via pau-de-arára, sob choques elétricos e variadas torturas... esses homens, heróis da resistência, chegam ao poder trazendo à sombra uma outra geraçao: aquela que desde a infância sonha viver, um dia, em um Brasil mais justo. O Brasil com eles dexaria de ser o Pais do futuro para ser o presente do futuro passado.
Pois bem. Os heróis da resistência estão no poder. Os eleitores, geraçoes de sonhadores esperam a realizaçao do sonho mas os heróis não conseguem sair do plano das promessas e se atolam no erro comum da política que eles um dia odiaram: a mentira.
Os outrora heróis da resistência brigam e discutem entre si tais como os generais da ditadura faziam diante da tropa dentro do cárcere em frente ao pau-de-arára.
Aqueles lideres estudantis (Presidentes da União Nacional dos Estudantes - UNE); aqueles guerrilheiros do Araguaia; aqueles seqüestradores de embaixadores... não passam hoje de integrantes do museu histórico nacional: estão vivos para o passado, porém mortos para o tempo presente.
Eu faço parte da geraçao que assistiu a aurora da ditadura em 1960, atravessei a década de 70 em meio as drogas e movimentos artisticos-literários, observei a década perdida de 80, a esperançosa de 90, que hoje nos coloca estarrecidos diante do entulho da resistência.
Os heróis da resistência viraram entulhos. É certo que a autoridade exacebada não existe em Brasília mas a falta de governo é real e o povo sofre com isso.
Somos tardio em reconhecer o que John Lennon disse na hora certa ha 20 anos: “O sonho acabou!”
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